30 de abr. de 2011

Nascer de Novo

Oticas diversas 011Nascer: findou o sono das entranhas.
Surge o concreto, a dor de formas repartidas.
Tão doce era viver, sem alma,
no regaço do cofre maternal, sombrio e cálido.
Agora, na revelação frontal do dia, a consciência do limite,
o nervo exposto dos problemas.
Sondamos, inquirimos sem resposta:
Nada se ajusta, deste lado, à placidez do outro?
É tudo guerra, dúvida no exílio?
O incerto e suas lajes criptográficas?
Viver é torturar-se, consumir-se à mingua de qualquer razão de vida?
Eis que um segundo nascimento, não adivinhado,
sem anúncio, resgata o sofrimento do primeiro, e o tempo se redoura.
Amor, este o seu nome.
Amor, a descoberta do sentido no absurdo de existir.
O real veste nova realidade, a linguagem encontra seu motivo
até mesmo nos lances de silencio.
A explicação rompe as nuvens, das águas,
das mais vagas circunstâncias:
Não sou eu, sou o outro
que em mim procurava seu destino.
Em outro álguem estou nascendo.
A minha festa, o meu nascer
poreja a cada instante em cada gesto meu
se reduz a ser retrato, espelho,
semelhança do gesto alheio aberto em rosa.
P.S.

 

(Carlos Drummond de Andrade NarCicerando rsrs)

Nenhum comentário: